Monday, December 29, 2008

descobri hoje uma nova escritora. assim, ao acaso (e como eu gosto dele....), lendo um dos blogs que descobri nos últimos tempos, vi um texto que já amava, mas cuja autoria tinha sido atribuída à clarice (lispector). descobri que não foi clarice não, quem o tinha escrito. foi na verdade uma tal Marina Colasanti.

"googleei-a" na mesma hora. encontrei mais um texto incrível dela, que diz exatamente o que penso sobre diários, até sobre esse aqui, apesar de suas restrições. um diário nos conserva, nos reflete, assim como somos, não há como fingir completamente ao escrevermos. mesmo fingindo estamos deixando rastros nossos, mesmo escondendo não há fuga: um pouco de nós fica ali.

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Um diário é um amigo? Uma companhia? Também. Mas é sobretudo a duplicação da gente mesmo, espelho que não se apaga quando o rosto se retrai ou muda, álbum de retratos que conserva muito mais que um belo sorriso e a paisagem de fundo. Quieto, compreensivo, calmo, o diário está ali, aberto e limpo. Oferecendo seu espaço, no qual você vai desenhar a sua vida e ele apenas... receber. Ele não tem recriminações a fazer, ele não diz que a culpa é sua, ele não encosta dedos na ferida. Como uma cama, como um mar, ele recebe. Você escreve muito se a emoção é forte, vai e volta e repete e repisa o mesmo assunto. Ninguém conta seu tempo, ninguém conta suas páginas. Você pode escrever até a mão cansar, até a alma aliviar. Você pode escrever e escrever e escrever. Ele aceita. E quando não quiser escrever mais, é só fechar e guardar o diário que ele mais nada exigirá. Não me diga que não tem o que contar. Você é o centro do seu universo, nada é mais importante do que aquilo que lhe diz respeito. Isso é que faz o encanto do diário. Se fosse usado apenas para registrar a queda do governo ou a evolução dos projetos orbitais, seria desnecessário, porque para isso já existe a imprensa, os arquivos, os registros da memória nacional. O diário serve justamente para conservar o pequeno acidente humano e individual, sua discussão com um amigo, o namoro lancinante, a dúvida sobre a roupa para usar naquela festa... O diário serve para conservar você."
(Marina Colasanti)
tenho um diário que comprei quando tinha uns 11 anos - sim, faz tempo - com cadeado (porque o maior medo de uma menina é que alguém leia seu diário e a pegue assim tão...... desarmada.... ), florezinhas na capa, páginas escritas com caneta colorida. todos os meus problemas eram os maiores, todas as minhas dúvidas eram irrespondíveis, tudo era tão maior do que eu, uma menininha ainda, afinal. e quando leio aquilo tudo hj (e faz um tempo que não o faço, mas agora deu vontade), lembro um pouco do que fui, do que senti, e entendo um pouco melhor o que sou hj. entendo melhor esse encanto que insisto em ver em quase tudo, já que nem sempre a vida foi assim gentil comigo. sei que tudo que vivemos, sendo bom ou ruim, lindo ou péssimo, acaba nos tornando o que somos. e é bom ver que já não me sinto assim tão ínfima diante da imensidão do mundo. tenho consciência da minha importância "restrita", mas agora sei que o mundo também eh um pouquinho meu.......

1 comment:

Anonymous said...

Por que nao:)